art popular

Art Popular:
a vida sem Leandro Lehart
Os grupos de pagode estão em plena fase de debandada de seus vocalistas. Belo, do Soweto, Vavá, do Karametade, e Alexandre Pires, do Só Pra Contrariar, todos decidiram dar prioridade a seus trabalhos-solo. E, mais recentemente, Leandro Lehart, do Art Popular. Mas nesse último caso, engana-se quem pensa que foi o vocalista principal que saiu. "A saída de Leandro marca a saída do produtor e do compositor, os papéis principais que ele exercia no grupo. Eu sempre fui vocalista também, nós dividíamos os vocais principais. Todos aqueles sucessos do Art Popular que o pessoal conhece, como Valeu Demais, Nani, Temporal, sou eu que canto!", esclarece o cantor Márcio Art. O Art Popular está lançando seu novo disco - chamado simplesmente Art Popular - trabalho em que Leandro continua tão presente quanto antes: ele é produtor, arranjador e autor de todas as músicas do álbum, além de tocar vários instrumentos. Márcio faz questão de dizer que sua saída foi tranqüila e que todos continuam amigos. "A decisão aconteceu quando estávamos escolhendo o repertório. Ele chamou o Tcharlinho e o Anderson (membros do grupo) na casa dele para falar que estava pensando em sair. Ele disse que estava superfeliz com seu disco solo e que aquele era o momento de se dedicar mais à carreira pessoal", conta.

Leandro alimentava o projeto do CD solo (intitulado Solo) há dois anos e, ao lançar, percebeu que a agenda dele e do grupo já não se encaixavam. "É um trabalho que apresenta um outro gênero, mais pop, com que Leandro sempre se identificou mais", explica Márcio. E agora, Lehart seguirá sozinho, mas sempre com um pé nos bastidores do Art Popular. Natural: foi através do grupo que o compositor firmou seu nome no mundo do samba, tornou-se campeão nacional de arrecadação de direitos autorais por execução (calcula-se que as músicas de Lehart toquem pelo menos 800 vezes por semana, Brasil afora - isso nas poucas rádios que pagam regularmente os direitos às editoras). Art Popular, o disco, vem para suceder mais um sucesso do grupo - o Acústico MTV, lançado em agosto do ano passado. O álbum ultrapassou as 250 mil cópias vendidas e garantiu a posição do grupo no mercado pagodeiro nacional. Com ou sem Leandro Lehart. "Ele é um grande líder, um cara que inspira todos nós e também o nosso compositor mais importante. Mas o grupo sabe muito bem caminhar sem ele. Ao mesmo tempo, sabemos também que sempre vamos poder contar com o Leandro", diz Márcio.



falando segredo


De volta às raízes
O primeiro CD do Art Popular foi O Canto da Razão, um trabalho independente lançado em 95 pelo selo Kascata's Records. Os discos seguintes tiveram pequenas dosagens de diferentes estilos: moda de viola, balada, tecno, salsa e axé. Mas sempre apresentaram um equilíbrio entre o samba romântico e o balanço. "Vamos trabalhando de acordo com o mercado, pois não podemos ficar na mesmice. Os fãs já estavam cobrando uma volta ao samba de raiz e este CD está bem tradicional", garante Márcio. A única faixa que destoa deste clima de sambão é Vai Tê Que Resolvê, um inusitado xote à moda Leandro Lehart. "É bom lembrar que no Sambapopbrasil (álbum de 1997 do grupo), gravamos Vermelhão, que também tinha essa raiz nordestina. Falo isso para não pensarem que a gente gravou este xote só por modismo", ressalta. Márcio diz também que, à exceção do triângulo, a música só tem instrumentos típicos de samba - sem sanfona ou zabumba à vista. E é justamente a valorização dos instrumentos a principal característica que leva este sétimo disco ao samba de raiz. Banjo, cavaco, repique, pandeiro e tantan, todos bem marcados, ressaltam a nova fase do grupo. O disco começa surpreendendo com os samples usados em Deixe Eu Ir à Luta. "Ah, isso foi idéia de produtor... A música fala do dia-a-dia das pessoas, que precisam partir para a batalha para não ficar mal pela vida. O efeito foi bem simples: sou eu cantando, enquando andava na rua com Leandro", explica Márcio. O sampler também foi utilizado na gingada Bate o Pandeiro (de Evandro): "Ali foi uma homenagem a Clementina de Jesus e Jovelina Pérola Negra", revela. Das faixas novas, Márcio destaca também a musicalidade diferente em "Casinha e luar" - "Para essa faixa, queríamos um arranjo que desse a impressão de uma música cantada ao ouvido de alguém" - e o solo do experiente Zeca do Trombone em Chora Chora: "Decidimos incluir uma versão com uma levada de gafieira, coisa que ninguém mais faz. Pensamos naquele pessoal de academia, nos que ensinam e aprendem a dançar o estilo", explica o vocalista.

O encarte do novo CD do Art Popular é uma novidade à parte. As letras estão cifradas e o visual dos integrantes está com um certo ar retrô. "Tcharlinho, que estuda cavaquinho, foi quem sugeriu que colocassemos as cifras, para facilitar as pessoas que tocam. Nossas músicas sempre foram campeãs no repertório de barzinhos e pagodes, só que o Leandro não ganha grana por essas execuções", brinca Márcio. Quanto ao novo estilo de vestuário, ele explica: "O nosso figurino é uma referência ao malandro das antigas, aquele que ia todo alinhado para o samba. Não tem nada a ver com gângster!", brinca Márcio. O Art Popular avisa que pretende lançar o CD não só em grandes casas de espetáculos, mas também e espaços de samba, principalmente no Rio, São Paulo e estados do Sul. "A estrutura do nosso show não mudou em nada. Continuamos com o mesmo pique de antes, as mesmas performances e loucos para cair na estrada", diz Márcio, animado.

fonte: Mônica Loureiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário