MIS abrirá acervo de Jacob do Bandolim

Público terá acesso à obra no Rio, como tributo aos 40 anos da morte do artista

A grande efeméride desta quinta-feira não é daquelas nostálgicas e repletas de lamentos. Hoje, dia que se completam 40 anos da morte de Jacob do Bandolim (Jacob Pick Bittencourt), sobram motivos para comemorações devido ao respeito no tratamento conferido à obra deixada como legado pelo maior compositor de choro, ao lado de Pixinguinha.
Graças ao trabalho do Instituto Jacob do Bandolim, entre o fim de outubro e o início de novembro deste ano, 6 mil partituras do acervo do bandolinista e 350 CDs estarão disponíveis para o público como material de pesquisa, no Museu da Imagem e do Som (MIS), do Rio.

A grandeza dessa herança é revelada por um lado pouco conhecido de Jacob e escondido atrás de sua genialidade como instrumentista e compositor. Perfeccionista e organizado ao extremo, ele tinha o hábito de gravar e catalogar tudo que o cercava, como os famosos saraus e ensaios que ocorriam aos sábados no quintal de sua casa em Jacarepaguá, de 1950 a 1969.

As centenas de CDs - fruto da digitalização de 200 fitas de rolos magnéticos, com 400 horas de gravação - trazem também raridades, como depoimentos de Jacob, uma entrevista feita por ele com o cantor Orlando Silva por telefone, programas de rádios dos quais o bandolinista participava e a íntegra da transmissão radiofônica da final da Copa do Mundo de 1958, disputada pelo Brasil e pela Suécia.

"É de suma importância que o brasileiro conheça a sua cultura. Nós, infelizmente, destruímos, o que temos aqui. Eu tenho obrigação de cuidar da obra do meu pai. As pessoas precisam conhecer o que temos de bom aqui, no País", diz Elena Bittencourt, filha de Jacob, e presidente do instituto.

A digitalização das partituras ficou sob a coordenação do bandolinista Pedro Aragão. Já os rolos magnéticos contaram com o conhecimento daquele considerado por muitos como o sucessor de Jacob, Déo Rian, que ajudou a identificar as músicas e os integrantes que participaram das gravações. "Eu convivi com o Jacob de 1961 a 1969.

Daquela turma de músicos, só sobrou eu que podia fazer esse trabalho de reconhecer os músicos participantes naquelas festas e saraus", diz Déo Rian.

Além de todo esse material, até o fim do ano mais um patrimônio de valor inestimável deve chegar ao público. O instituto lançará partituras inéditas encontradas nos arquivos de Jacob. Serão 34 cadernos manuscritos de composições que nunca foram gravadas, entre elas, raridades dos séculos 19 e 20, com anotações de autores como Arlindo Nascimento, Patrocínio Gomes, Albertino Aguiar e Candinho.

O caderno mais antigo era do compositor Nestor S. Cauby, com registros de 1887. "Esses cadernos, que já foram digitalizados, eram uma lenda no mundo do choro. Estamos negociando a impressão com editoras", diz Sergio Prata, diretor de pesquisa do Instituto Jacob do Bandolim.


Principais herdeiros

Hamilton de Holanda: O bandolinista nascido no Rio e criado em Brasília reforça a tese de que para poder ser criativo e inovador é preciso ter amplo domínio da tradição. Para tocar de maneira criativa, descobrindo novos caminhos para o instrumento como vem fazendo, Hamilton, antes de tudo, tem o repertório jacobiano inteiro "embaixo dos dedos", e grande parte da obra de Luperce Miranda, bandolinista contemporâneo de Jacob, dono de uma técnica apurada e de uma velocidade impressionante para executar os solos.

Danilo Brito: Mesmo com pouca idade (24 anos), o paulistano Danilo Brito já conquistou o respeito não apenas de seus pares de hoje, como também da velha guarda do choro. Atualmente, ele é o que mais se assemelha ao estilo de Jacob, tanto no jeito de tirar o som do instrumento quanto na postura de chorão.

"O Danilo toca com fidelidade à tradição, mas tem um bandolim do século 21. O próprio Hamilton de Holanda diz que se o Jacob estivesse tocando hoje, seria muito parecido com o Danilo", comenta Sergio Prata.

Bruno Rian: O jovem bandolinista e conselheiro do Instituto Jacob do Bandolim segue a trajetória do pai, Déo Rian, amigo e sucessor direto de Jacob. Com seu disco de estreia como solista recém-lançado, Bruno reedita a tradição do choro e a limpeza do som que Jacob extraía do instrumento. "Ele segue a linha do choro tradicional mesmo. Sem contar que ele conhece tudo sobre Jacob, virou uma referência no assunto. Desde muito pequeno ele ouvia diversas passagens e histórias que o Déo lhe contava", diz Prata.

Fonte: Lucas Nobile

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