Djalma Sabiá



"Ele é a história viva do Salgueiro. Além de possuir registros, como o primeiro estatuto dessa escola de samba, sabe de cor fatos ocorridos e até mesmo as datas. Djalma de Oliveira Costa, o Djalma Sabiá, guarda com carinho todas as reportagens e fotografias da agremiação e ainda placas, diplomas, mensagens e premiações conquistadas por ele. O último, um Estandarte de Ouro como Personalidade do Samba (2003), enfeita a parede do quartinho onde vive, numa vila na Rua Conde de Bonfim, próximo à Praça Saens Pena. Aliás, parede é o que falta. Tudo está tomado por fotos e recortes de jornais e revistas.

Com a autoridade de quem acompanhou cada passo, desde o nascimento da escola, ele exibe e faz questão de explicar até os detalhes das fotografias, o ano, quem era presidente naquela época, quem fez aquela viagem, o que aconteceu naquele dia. O Salgueiro não era um hobby, fazia parte da sua vida pessoal. Até hoje faz, mesmo sem estar envolvido diretamente com a escola. "Isso aqui tudo vai pro túmulo comigo! Minha filha outro dia jogou algumas coisas fora. Fiquei revoltado com ela".

O envolvimento com samba começou cedo. Em 1936, a mãe de Sabiá, Alzira de Oliveira Costa, era porta bandeira da Unidos da Tijuca, primeira escola do bairro. Djalma, obviamente, entrou para esta agremiação. Mas, ao se apaixonar por Jurema da Silva, a Diva, porta bandeira da Depois Eu Digo - com quem se casou em 1946 - trocou de lado. Com a fusão das agremiações do morro do Salgueiro, não teve mais jeito: tornou-se salgueirense. Sua esposa foi pastora e dona de ala na vermelho e branco da Tijuca enquanto ele compunha belíssimos sambas, entre eles "Chico Rei", de 1964, até hoje considerado um dos melhores. O cantor e compositor Martinho da Vila, por exemplo, gosta tanto desta obra que chegou a regravá-la e, em certo show, anunciou a presença de Sabiá. Em seguida, em vez de cantar, disse o samba, cada frase, pausadamente.

Sorrindo, Sabiá lembra também da viagem a Cuba em 1959, onde o Salgueiro participou do evento em homenagem a Fidel Castro: "Os cubanos adoraram a escola. Falavam assim: 'Baila, negrito!'". Pelas fotografias que exibe é possível perceber que, mesmo aos 78 anos, Sabiá não perdeu o estilo dos sambistas daquela época. Os gestos e a linguagem utilizados por ele permitem visualizar como se comportava o legítimo malandro de outrora: "A gente já descia o morro na ginga!".

Apesar de estar triste com as transformações ocorridas no samba, Sabiá diz guardar ótimas recordações, entre elas, ter conhecido Argentina, Cuba, Uruguai e alguns estados do Brasil pelo Salgueiro. É feliz também por ter conversado pessoalmente com pessoas ilustres como Juscelino Kubitschek de Oliveira e Carlos Lacerda, de quem conseguiu um terreno: "Em vão pois a diretoria da escola não lutou para efetivar o processo", relata.

Saudoso, se emociona ao lembrar do passado e exibe a ata com o nome de todos os fundadores da escola - material recolhido na antiga sede, sob uma geladeira: "Naquela época não existia ambição. Nem dos dirigentes. Ambição maior era levantar um título". Por si só, Sabiá é um arquivo."

Trecho da monografia de
do curso de Jornalismo, em 2003.

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