acadêmicos do salgueiro

HISTÓRIA - Desde o surgimento de um cotidiano no morro do Salgueiro, os moradores já mostravam sua musicalidade e tinham muito orgulho dos sambas que compunham. Era uma vida marcada pela altura do morro de pedra ainda bruta, mas com uma vista privilegiada da cidade. Um mar de luzes que virou inspiração para a criação de sambas na volta do trabalho. Carnavalesco por natureza, o morro chegou a abrigar mais de dez blocos, entre eles o Capricho do Salgueiro, Flor dos Camiseiros, Terreiro Grande, Príncipe da Floresta, Pedra Lisa, Unidos da Grota e Voz do Salgueiro. Todos com um grande número de componentes que desciam do morro para brincar na Praça Saenz Peña e nas famosas batalhas de confete da Rua Dona Zulmira, onde o Salgueiro era respeitado pelo talento de seus compositores e mostrava a todos que já era uma verdadeira academia de samba. Era lá em cima, no morro do Salgueiro que, ainda nos anos 30, Dona Alice Maria de Lourdes do Nascimento, conhecida com Dona Alice da Tendinha, passou a organizar um corpo de jurados para premiar os blocos que desfilavam no morro. A cada ano o desfile ficava mais animado e reunia moradores de outros morros e bairros, atraídos pela qualidade dos sambas feitos no Salgueiro. Clique para ampliarDa fragmentação do samba do morro em vários blocos surgiu a união e nasceram três escolas de samba no Salgueiro: Unidos do Salgueiro, de cores azul e rosa, a Azul e Branco e a alviverde Depois Eu Digo. A escola de samba Azul e Branco teve como figuras principais Antenor Gargalhada, o português Eduardo Teixeira, e o italiano Paolino Santoro, o Italianinho do Salgueiro. A ala de baianas da escola era uma das maiores da cidade e abrigava personagens como as jovens Maria Romana, Neném do Buzunga, Zezé e Doninha. A Unidos do Salgueiro foi formada pela união de dois dos mais importantes blocos do morro: Capricho do Salgueiro e Terreiro Grande. A figura dominante da escola era Joaquim Casemiro, mais conhecido como Calça Larga. Líder no morro e bem articulado politicamente, Calça Larga organizava as rodas de samba, passeios, piqueniques em Paquetá e tudo o que fosse possível para unir a comunidade do morro. Reunindo um grupo de sambistas talentosos, a Depois Eu Digo se transformou em escola de samba em 1934 e abrigava em suas fileiras nomes como Pedro Ceciliano, o Peru, Paulino de Oliveira, Mané Macaco, entre outros. Nas três escolas iam surgindo talentosos compositores, verdadeiros gênios musicais, como Geraldo Babão, Guará, Iracy Serra, Noel Rosa de Oliveira, Duduca, Geraldo, Abelardo, Bala, Anescarzinho, Antenor Gargalhada e Djalma Sabiá. Homens que enriqueceram o cenário musical brasileiro e construíram uma obra original para as escolas de samba do morro.

Foram as canções inspiradas desses bambas que fizeram com que o Salgueiro passasse a ser respeitado por todas as demais escolas de samba. Mesmo com a qualidade de seus compositores, o Salgueiro, com suas três escolas, não conseguia ameaçar o predomínio das maiores escolas de então - Mangueira, Portela e Império Serrano. Os sambistas de outros morros respeitavam os salgueirenses e citavam seus compositores, passistas e batuqueiros como o que havia de melhor no mundo samba. Mas, nos desfiles da Praça XI ... nada acontecia. Componentes e baterias das três escolas se juntaram somando cores e bandeiras e arrastando o povo para a Praça Saenz Peña. Foi o estopim para a fusão. Depois de algumas reuniões em que foram decididos o nome e as cores da nova escola do morro, em 5 de março de 1953, os componentes da Depois Eu Digo e da Azul e Branco se uniram fundaram o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, com as cores vermelho e branco, uma combinação que já era a quebra de um tabu, uma vez que, naquela época todos achavam que "crioulo com roupa vermelha parecia o demônio". A Unidos do Salgueiro desapareceu anos depois e seus integrantes se juntaram aos Acadêmicos do Salgueiro.A QUADRA - Inicialmente, a quadra de ensaios do Salgueiro - quadra Casemiro Calça Larga - ficava na subida do Morro do Salgueiro. Com o sucesso da escola na década de 60, seus ensaios, antes freqüentados apenas pelos moradores do morro e por componentes da escola, passaram a contar com a presença da classe média do Rio de Janeiro e de turistas, que se aventuravam a subir o morro para apreciar os espetáculos dados por Paula, Isabel Valença, Narcisa, Roxinha, Vitamina, Damásio e outros, os verdadeiros artistas do Salgueiro. Como a pequena quadra, sem infra-estrutura, já não comportava mais tanta gente, na metade da década surgiu a idéia de "descer a escola para o asfalto" e realizar os ensaios em um local maior e de mais fácil acesso. A saída foi alugar a quadra de esportes do Maxwell Esporte Clube, em Vila Isabel. A proximidade das eleições da escola em 1976 mobilizou toda a escola e uma das plataformas de um dos candidatos, Euclides Pannar, o China Cabeça Branca, era justamente dar uma quadra de ensaios e uma sede própria à escola. Vencedor nas eleições, China cumpriu sua promessa. Sabedor da briga judicial entre o Confiança Atlético Clube e o Grupo Abdala pela posse do terreno onde ficava o Clube, na Rua Silva Teles, 104. China juntou-se ao Confiança e, juntos, ganharam a liminar. Em troca do apoio, o Confiança cedeu parte do terreno à escola, que, ganhava, assim, sua sede. Os componentes da escola se uniram em mutirão e construíram a sede da escola. No dia 3 de outubro de 1976 a nação vermelha e branca inaugurava a quadra e sede da escola, considerada uma das melhores da cidade e motivo de orgulho para todos salgueirenses. A escola passou a utilizar a quadra, mas uma briga judicial continuou nos anos seguintes se arrastando por quase 30 anos. Em uma ocasião, às vésperas do carnaval de 1995, a escola chegou até a ser despejada, tendo que ensaiar na rua. Em 2004, porém, o Salgueiro, recebeu, da prefeitura da cidade, o Termo de Permissão de uso do terreno para desenvolver suas atividades culturais e esportivas, o que assegurou à escola um espaço permanente para seus ensaios e projetos sócio-culturais.

memórias do carnaval

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