do sal a oswaldo cruz

O Dia Nacional do Samba fica mais popular a cada ano. Os trens partem mais cheios e o bairro de Oswaldo Cruz fica cada vez mais lotado. Há quem reclame que muita gente que não gosta de samba embarca nos vagões por causa do estardalhaço do evento ou por causa da pegação. Faz sentido isso? Sim. Mas também faz sentido que muita gente que “marcava toca” anda abrindo a guarda pra cuíca e pro agogô. Quando se pisa pela primeira vez dentro daquele trem, não há quem não reconheça ou se deslumbre pelo poder que do samba. E, fora comemorar a data sagrada dos bambas, é também um dia para celebrar a amizade e contemplar as belas mulheres, por que não? Todo dia 2 de dezembro minha rota é a mesma. Primeiro a Pedra do Sal, depois Central do Brasil, local de assistir a algumas apresentações da nata do samba e, por fim, parto para Oswaldo Cruz, onde aporto na Roda do Buraco do Galo e como o melhor mocotó do mundo.

Neste ano, a Pedra estava melhor que nos anos anteriores. Local que no passado foi mercado de escravos e era “ponto de encontro de sambistas que trabalhavam como estivadores” – como diz a placa que tem lá. A energia é tremenda. Basta lembrar que João da Baiana e Pixinguinha se reuniam naquelas bandas. Quem marca ponto atualmente na Pedra são figuras como Camunguelo, Edinho Oliveira e a encantadora Márcia Moura. Camunga é flautista genial e toda vez que pega o microfone saúda o pessoal da estiva. “Parece uma entidade”, bem disse um amigo meu. Edinho, militante antigo do movimento negro e do samba, é quem comanda a roda, cantando, ciceroniano e explicando coisas da antiga. Márcia, sempre de branco e com sorriso aberto, castiga com seu partido-alto, contagiando quem é atingido por ele. Ao embarcar na Central, o samba é servido nos vagões no estilo self-service. Escolha o que lhe apetece, amigo. É muito batuque, ziriguidum, telecoteco. É palma da mão, é na garrafa d’água, na lata de cerveja. Ninguém fica parado. É aquele momento de gol no Maracanã, todo mundo é amigo. A pessoa do lado merece seu abraço, seu sorriso.

Se visto do alto a Mangueira mais parece o céu no chão, visto de cima Oswaldo Cruz é um verdadeiro chão de estrelas. Muitas rodas de samba. Muita comida. Difícil crer que as pessoas que estão chegando ali visitem o bairro em outras datas. O 2 de dezembro é desculpa para ir ao bairro de Paulo de Portela. Se você conhece a história de Seu Paulo, da Portela, Candeia e outros, a sensação de estar lá é melhor ainda. Ultimamente – principalmente depois deste blog - tenho travado muitas discussões sobre o que é samba. Se existe samba de raiz, se fulano pode cantar samba de sicrano, se vale a pena ou não fazer um disco com músicas que já foram gravadas mais de cem vezes. A conclusão que eu tiro disso tudo é que o que torna o samba tão singular, genial e belo é a sua simplicidade e seu poder de agregação. Como o das pessoas de Oswaldo Cruz.

Por: Thales Ramos

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